sexta-feira, agosto 12, 2011

Armistício

Ela não parava de vociferar, transtornada. E ele calado a ouvir, sem tentar reagir, parado a olhá-la.
E ela muito zangada a refilar, ignorando as testemunhas involuntárias sentadas na mesma esplanada que ouviam o seu desabafo cada vez mais descontrolado.
E ele continuava calado a olhá-la, a anuir com a cabeça enquanto recebia o impacto daquelas palavras azedas no peito, à espera do momento certo para a intervenção que preparava em silêncio, imune à insistência dela, que continuava de cabeça perdida à procura de uma reacção que explodisse numa discussão onde talvez acreditasse ajustar as contas.

Às tantas ela calou-se e em toda a esplanada a expectativa aumentou, mal disfarçada nos rostos de quem fazia de conta nem perceber do que se tratava.
E ele levantou-se da cadeira, sem proferir uma palavra, e estendeu o braço e percorreu-lhe o rosto com uma carícia suave enquadrada por um sorriso que a desarmou.
E foi então que a beijou à vista de todos e a discussão acabou mesmo antes de poder começar.

3 comentários:

  1. E o espírito da cidade será um bom companheiro,
    e não nos punirá a cada dia
    por nossas vidas.

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  2. Não será o da cidade a valer-nos, mas aquele que preservarmos desse tipo de agressão.

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